quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Luan e o existencialismo sartreano

  Luan Madson Gedeão de Paiva nasceu em São Miguel dos Campos, no Nordeste do Brasil, no estado de Alagoas. O menino, que teve uma infância pobre e sofrida devido a ausência dos pais, foi criado pela avó. Com esse início instável, poderia ter ido para o mundo das drogas, mas escolheu o futebol. Tornou-se jogador profissional e hoje vive o auge da carreira no Clube Atlético Mineiro, bem distante da terra natal. Um futuro inesperado, mas que provavelmente já estava prescrito mesmo antes da sua existência.

  No século XIX, surgiu uma nova vertente da filosofia contemporânea: o existencialismo. Seu maior objetivo era descobrir o sentido da existência humana e teve como principais pensadores Heideger e posteriormente Sartre. Este dissertou livros e mais livros sobre o tema e ficou conhecido pela frase “a existência precede a essência”. Afinal, para ele, o homem primeiro existe e só depois constrói a sua existência. Assim, um dos fundamentos da sua teoria é que o ser humano não tem uma essência predefinida.

  Sartre, desculpe-me, mas o Luan está aí, em pleno século XXI, para refutar a sua tese. O baixinho nasceu, ou melhor, foi criado para jogar no Atlético-MG. Sua essência é vestir o manto atleticano e jogar em nome da nação alvinegra. Seu sangue é, de fato, preto e branco, e seu sobrenome é Galo. O menino maluquinho pode ter deficiências técnicas em alguns momentos, mas sua raça descomunal compensa, e como, e é isso que quer e encanta o torcedor.

  No jogo de ontem, na vitória por 2 x 1 contra o Internacional, o símbolo atleticano mostrou novamente a sua essência. Correu por todos os lados, ajudando no ataque e na defesa, e vibrou como se fosse seu último jogo. No fim, na entrevista para a televisão, até se emocionou, como todos os torcedores presentes no estádio, e desabafou o que estava entalado na garganta. Aos prantos, dedicou a vitória à mãe de criação, sua avó, que já faleceu, e à filha. Choro de alegria, que mostrou que ainda acredita no título. Choro que simboliza sua luta e sua cumplicidade com a massa.

  Luan é o camisa 27, mas poderia sem problemas vestir o número 12, afinal, representa perfeitamente o décimo segundo jogador da equipe, que é a torcida. Que ele continue acreditando no título, que a torcida acreditará também. Que ele continue lutando em campo até a exaustão, que a torcida continuará apoiando até ficar sem voz aos gritos de “Olé lé lé, olá lá lá, o Luan vem aí e o bicho vai pegar”. Que ele continue justificando sua essência, que os torcedores continuarão a torcer pelo Galo do berço até o caixão.