Dia 23 de
novembro de 2016. A Chapecoense faz história. Danilo, o goleiro salvador,
defende um chute no último lance, levando o time de Chapecó à final da Copa
Sulamericana. Um momento mágico, inesquecível. A torcida, que lotou a Arena
Condá, comemora, entre choros e sorrisos. O time, em uma união inexorável, se
abraça e corre pelo gramado, tomado por uma alegria que parecia inabalável.
Dia 29 de novembro de 2016. O mundo entra em
choque. O avião, que levava o time da Chapecoense para a primeira partida da
decisão na Colômbia, cai. 71 mortos, entre comissão técnica, jogadores,
tripulantes e jornalistas. A equipe alviverde, que vivia o melhor momento da
sua trajetória, se desestrutura por completo. Tudo o que passou parecia ter
sido em vão.
Em uma semana, a vida ratifica sua
efemeridade. E nós, que acompanhamos essa história, ficamos sem reação,
tentando entender o inexplicável. Mas, talvez, Nietzsche explique.
Para o filósofo, devemos viver a vida de
maneira intensa e longe das imposições morais. Não obstante, é essencial que
imaginemos que viveríamos para sempre o momento que estamos passando.
Viveríamos mais uma vez, e incontáveis vezes, cada dor, cada suspiro, cada
prazer. O chamado eterno retorno.
Imaginemos que essa pergunta fosse feita para
o time de Santa Catarina, no dia 26 de novembro de 2016, no instante em que a
memorável classificação fora ratificada.
- Vocês viveriam este momento infinitas vezes? Passariam todas as
emoções novamente, do sofrimento à felicidade, e todas as outras que essa
escolha implicaria?
- Sim! - Sem dúvida, diriam todos. Não à toa,
no fim daquele dia, o técnico Caio Júnior afirmara que, após a conquista
alcançada, se fosse morrer, morreria feliz.
E se o Danilo não tivesse defendido aquele
chute? E se o time não fosse para a final?
Após aquela partida, o goleiro recebeu o rótulo de herói, que foi rapidamente
recusado. “Herói não, ninguém vence uma guerra sozinho. [...] A união do grupo
mostrou mais uma vez que vence.”
Logo,
nada foi em vão. A união inexorável se manteve, apesar das circunstâncias. O
esporte fica abalado, instável, mas ganha um grupo vencedor. Uma equipe de
heróis que nos mostra que a vida vale sim ser vivida, nos seus pequenos
momentos, da felicidade completa ao sofrimento inexplicável.